Sobre o Tarahumaras

HISTÓRICO DO TARAHUMARAS 

 Os Tarahumaras perpassam a Grande Vitória. Atravessam a pequenos passos grandes caminhos em busca de si mesmos e de outros. Misturam-se aos transeuntes que, muitas vezes, seguem indiferentes à própria existência. Não se sabe de onde vieram e, tampouco, para onde vão. Sabe-se apenas que estão no caminho. O que acontece mesmo é que – independente da busca de algo que não se situa no mero conceito de espaço – estão alojados nos seios da urbanidade. O sentido de mundo em questão: sobrevivência. A questão do sentido entre o que permanece e suas mutações. Tarahumaras, o grupo teatral. Uma pesquisa do Homem, seu meio, sua angústia e sua utopia. Trabalha para “viver” e “sobreviver”, como quem experimenta extremas situações, os dois lados da mesma corda, em estado permanente de tensão. E daí? Experimentar no dia-a-dia a possibilidade do Homem perguntando-se a si mesmo pelo Homem, a busca do Ser. Porque o Mundo não existe, mas existe o sentido que damos para ele. E existem muitos sentidos que podem e devem ser mudados.  Somos trabalhadores que fazem do ócio a sua ferramenta em busca da compreensão daquilo que ainda não compreendemos.

PESQUISA E FORMAÇÃO DE ATORES

Fundado aos 10 de outubro de 1987, em Vitória-ES, o Tarahumaras se dedica à pesquisa de linguagem estética e cultural e – a partir de constantes experimentações, tanto no processo de criação quanto na relação com o público – tem desenvolvido um trabalho voltado para a cultura latino-americana, apesar de suas influências de outras “escolas” de teatro, principalmente, da linha ‘não-aristotélica’.

O nome Tarahumaras que, na língua nauhatl, significa “corredores a pé” (tarah=corredor e, umara=) é uma homenagem ao poeta, dramaturgo, cenógrafo, ator de teatro e cinema francês, Antonin Artaud, em virtude de sua viagem ao México e sua estadia entre os ‘índios’ Tarahumaras (1936), quando conheceu os ritos e magias que vieram a influenciar toda a sua obra posterior.

Com seus espetáculos, o Grupo Tarahumaras, além de temporadas, tem apresentado como convidado em diversos encontros e festivais, nacionais e internacionais. Mas, afora os espetáculos em si, o Grupo realiza trabalhos em comunidades e junto a outras entidades da sociedade civil, principalmente, por intermédio de seu encenador Wilson Coêlho que desenvolve um trabalho de investigação prática e teórica sobre as novas tendências no teatro latino-americano, além de participar com muita freqüência de seminários, encontros, debates, festivais nacionais e internacionais. Ao longo deste trabalho de pesquisa, o Grupo tem desenvolvido uma linguagem própria no seu fazer-teatral e, consequentemente, por sua demarche, tornou-se objeto de estudo da francesa Catherine Faudry em sua tese, na Université Stendhal, Grenoble-France, intitulada “Théâtre au Brésil: Explotation des Tendances Actueles dans la Recherche d’une Communication avec le Public”.

Desde 1987, o Grupo Tarahumaras desenvolve pesquisa teatral no Estado do Espírito Santo, na região da Grande Vitória. A região possui uma população estimada em 1 milhão de habitantes. A maioria dos habitantes é descendente de italianos, portugueses, alemães, negros e “índios”.

A bagagem cultural que os moradores acumulam através de suas raízes, mais a miscigenação, aliados à necessidade de adaptação para sobrevivência numa cidade como Vitória, transformam-na numa fonte potencial de pesquisa cênica. Não significa que o Grupo se atenha a uma apologia ao “regional”, mas trabalha no sentido de buscar o uno existente na diversidade, ou seja, persegue o que é universal neste particular ou nestes particulares.

HORIZONTE ARTÍSTICO

Dentro deste contexto, nasce o grupo Tarahumaras. O trabalho do diretor Wilson Coêlho, leva em consideração estas características para potencializá-las no ser humano, na pessoa, munida da percepção da realidade.  Ou seja, as próprias carências resultaram na forma do fazer-artístico na busca de um Homem mais verdadeiro. É o que se pode chamar de poética dos atores. Trabalha-se o Homem e suas carências, a incompreensão que ele sofre na sociedade da qual faz parte.

O ator do Grupo Tarahumaras tem consciência não só do fazer teatral, mas está preparado para trabalhar com outras pessoas, decodificando suas existências, descobrindo suas potencialidades enquanto seres humanos. Busca-se uma nova linguagem, uma nova dramaturgia, um novo ator.

ENTRANDO EM CENA

Apesar de fundado em outubro de 1987, foi justamente em outubro de 1988, que o grupo Tarahumaras sobe ao palco pela primeira vez, com a peça “Antonin Artaud – Atos de Crueldade”, no Teatro Metrópolis da Universidade Federal do Espírito Santo. Essa peça, escrita e dirigida por Wilson Coêlho, participa do V Festival Capixaba de Teatro Amador, organizado pela FECATA – Federação Capixaba de Teatro Amador. Concorrendo com diversos grupos do estado, leva os troféus de “Melhor Espetáculo” e “Melhor Texto”, além de indicação para “Melhor Ator” para o protagonista Edmilson Maestri. Devido ao seu enfoque e questionamento sobre a loucura, levando em conta que o poeta-personagem viveu longos nove anos em diversos manicômios, “Antonin Artaud – Atos de Crueldade” foi apresentada em diversos espaços, servindo como base para a discussão sobre como a ciência e a sociedade tratam de nossos loucos nos dias de hoje.

Na seqüência, montou diversos outros espetáculos e participou de diversos festivais nacionais e internacionais como, por exemplo, entre outros, o FESTIMINAS – Festival de Teatro de Minas Gerais, organizado pela Federação de Teatro de Minas Gerais, realizado em Betim e ENTEPOLA – Encuentro de Teatro Popular Latino-Americano, realizado anualmente Santiado de Chile e promovido pela Sociedad Cultural La Carreta.

Além de ser um grupo ativo em todos os movimentos sociais e culturais, também produziu e realizou o “Virá Que Eu Vi – 2000” – Encuentro Latino-Americano de Teatro, na cidade Nova Venécia-ES, 1995, com a participação dos grupos “Poquelin”, de Bahia Blanca, Argentina; “Huerequeque”, de Chiclayo, Peru e “Sociedad Cultural Teatro La Carreta, de Santiado de Chile, além de diversos grupos do Brasil e Espírito Santo.

O ENCENADOR

O encenador diretor Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 24 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo, Doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”.  Assina a direção de 26 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Atuando como ator desde 1977, passou a aplicar junto ao  Grupo Tarahumaras – a partir de 1987 – um método próprio de pesquisa, somado a todos os seus conhecimentos sobre teatro, adquiridos em outros grupos e movimentos sócio-culturais como, por exemplo, participação em movimentos estudantis,  ecológicos, sindicais e populares.

Tendo em vista sua participação em diversos festivais nacionais e internacionais, em especial no II Simpósio Internacional sobre o “Teatro Não-Aristotélico, realizado em Barcelona, Espanha (1991), assim como, participações em outros eventos como oficinando, oficineiro, palestrante, debatedor e jurado, traz em sua bagagem influências de contatos diretos com nomes importantes da cena latino-americana e internacional, como Santiago Garcia, Egon Wolf, Lino Rojas,  Héctor Rodrigues Brussa, Victor Sotto, David Musa, Alejandro Sáenz, Miguel Bejarano, Fernando Arrabal, Enrique Buenaventura, Vicente Revuelta e outros.

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